Bateu um saudosismo daqueles ao ouvir By The Fire, novo álbum do Thurston Moore. Para quem, como eu, seria capaz de passar dias escutando todos os discos do Sonic Youth, banda de Moore que encerrou suas atividades em 2011, este By The Fire é um bálsamo.
O disco traz nove canções que facilmente figurariam em algum disco do Sonic Youth: são canções que se enquadrariam nos limites de clássicos da banda, mas apresentam algo da evolução de Moore em seus voos solo – que, desde 1995, com Psychic Hearts, tem uma produção que rivaliza com os discos de sua antiga banda.
By The Fire também dialoga de certa forma com as direções de Moore em The Best Day, disco de 2014, que apresenta canções com riffs cristalinos e arrangos elaborados partindo das premissas de algumas das canções mais, digamos, “pegajosas” de sua ex-banda.
Canções como Hashish e Cantaloupe, por exemplo, logo na abertura do disco, denúnciam algo desse diálogo de Moore com a trajetória de sua antiga banda, mas demonstrando que o Sonic Youth é componente fundamental desta guinada: estão lá – e também por todo o disco – as estruturas que fazem deste um dos grandes álbuns de Moore e um dos achados deste ano perdido.
E o disco segue em um crescendo com faixas que seguem em um equilíbrio brilhante entre distorção, leveza e mais distorção. Breath e Caligraphy são duas das canções que melhor expressam esta dinâmica: Moore equilibra e “solta a mão” em camadas e mais camadas de guitarras – sendo They Believe In Love [When They Look At You] uma das que me pegaram de jeito por um metodismo de Moore em mesclar um riff que vai ao infinito e seu peculiar trato com as harmonias.
By The Fire é assim: lida com as diferentes camadas desse saudosismo que nos atravessa há quase uma década desde o fim do Sonic Youth, mas, ao mesmo tempo, demonstra que Thurston Moore segue em sua busca por experimentar e expandir seus horizontes com os pés fincados nas suas fundações.
As meninas são de Pamplona, na Espanha, mas são donas de uma sonoridade que as remete a qualquer lugar entre os anos 1990 e 2010 em qualquer lugar nos dois lados do Atlântico que produziam um som com texturas etéreas para canções perigosamente cativantes e que te arrebatam logo nas primeiras audições.
Sério, Dias Raros tem rolado por aqui e me pego em diferentes momentos retornando a elas no Spotify. Inevitavelmente esbarro e sigo ouvindo o disco e, não raro, volto ao início para escutar novamente. O disco é um daqueles raros momentos em que uma sonoridade deliciosamente pop encontra os aspectos mais elementares daquela pegada indie/alternativa/garageira que você tanto gosta e que anda escassa nesse dias.
Está tudo lá, podem conferir: as meninas mandam muito bem.
Até pouco, vinha escutando algumas das bandas que adoro: The Breeders, Violeta de Outono e Pin-Ups. Preciso dizer que as Melenas caíram feito luvas nessa pegada que mantive há alguns dias por essa pandemia: há um brilho impressionante em canções como No Puedo Pensar que me fez remeter às melodias do Belly e às guitarras de Tanya Donnelly.
Há algo de um Star nesse novo trabalho das Melenas, assim como há algo de quase tudo o que fez minha cabeça nos anos 1990: as guitarras que gritam melodicamente, os vocais etéreos, a falsa atmosfera de despretensão que envolve canções que nos brindam com aquela percepção que só temos a partir da garagem, do fundo da platéia, de quem se aparta para apreciar o que está a acontecer…
Me alegra, confesso, que um grupo como as Melenas aposte em uma sonoridade como essa. São poucos nesses dias capazes de soar tão autênticos e brilhantes como elas…
Parabéns, meninas: suas canções não desgrudam da minha cabeça e isso é um bom sinal – ao menos para mim – de que vocês têm muito pela frente…
Enquanto escrevo estas impressões sobre The Last of Us – Part II, novo jogo da Naughty Dog que retoma a história de sobreviventes em um mundo distópico pós-apocalíptico devastado por uma pandemia que transforma seres humanos em criaturas “vegeto-esponjosas”, o Metacritic registra uma divisão: enquanto a crítica especializada atribui uma nota média de 94 pontos de um total de 100, os usuários do mesmo site derrubaram a avaliação do jogo para uma média de 51 pontos.
O que temos em relação ao jogo é uma conflagração, uma disputa entre dois polos que detêm suas motivações e algumas dessas são, senão estúpidas, beirando perspectivas do medievo ou antes disso: devem ser desconsideradas por carregarem desinformação, preconceito e uma cretinice reacionária fétida e bolorenta. São os fantasmas de um mundo inexistente e mais assustador que aquele do jogo.
Assim, falemos de The Last of Us – Part II e deixemos a fauna reacionário em seu cantinho ruidoso…
O jogo é brilhante. Não só por sua narrativa que nos conecta aos dois polos de uma narrativa que se entrecorta e se busca para compor um mosaico sobre medo, perda, raiva, ódio e, finalmente, compreensão e, claro, perdão. Por isso qualquer tentativa de reduzir The Last of Us – Part II a questões de costumes expressará uma minimização ou incompreensão que não sobrevive aos primeiros movimentos da trama – que é longa, com quase 30 horas de duração se o jogador optar por não enveredar por todos os elementos da trama e seus achados.
É um jogo belíssimo, diga-se…
Não é só a história, claro: mas é a história também. E a história contada em The Last of Us – Part II é descomunal em muitos sentidos. É a pura desconstrução de um mundo fragmentado em que os seus buscam por humanidade. Pode parecer estranho, mas a trama gira em torno desses pressupostos. Quando Joel encontra Abby nos primeiros minutos da história, há lampejos de humanidade – colaboração, empatia, amizade -, mas esses são confrontados por aquele ambiente distópico e a “nova normalidade” ali expressa (seja em Ellie recebendo um “sanduíche de intolerância”, seja na fatídica tocaia contra Joel): um mundo que afunda no caos tenta encontrar seus resquícios para reuni-los em algo inteligível.
The Last of Us – Part II é uma experiência, meus amigos. Quem se ofendeu com o que está lá disposto não parece ter entendido que aquela é uma pequena alegoria sobre nossos dias: um mundo devastado até suas bases mais fundamentais por uma pandemia em escala global e que faz ascender o que temos de pior.
Os primeiros minutos de jogo exprimem uma normalidade ante o caos, mas em pouco tempo Ellie, Dina, Joel e Tommy experimentam a realidade. É partir daí que ingressamos em uma espiral que nos vincula a um dos mais brilhantes jogos dos últimos tempos: The Last of Us – Part II salta aos olhos quando nos segura para que possamos experimentar esta travessia através das ruas de uma Seattle arrasada por milícias armadas, clãs religiosos ensandecidos e monstros que não parecem piores que os que ainda se apresentam como “humanos”
Mas é no desenrolar da trama, com as escolhas e o que as demais pessoas fizeram daquela realidade, que somos apresentados às situações e dramas que tornam a narrativa ainda mais complexa: enquanto jogamos com Ellie ou Abby, o jogo nos obriga a lidar com um complexo mosaico de situações, sentimentos e decisões que, mais que nos fazer jogar, nos interroga sobre o que está posto como “jogo” e narrativa.
The Last of Us – Part II não é simplório e, até seu igualmente contundente final, somos embalados por uma narrativa que não nos deixará impassíveis a tudo o que experimentamos. A comparação com A Estrada de Cormac McCarthy me parece inevitável porque, como o livro, The Last of Us – Part II nos devasta a cada página, a cada situação absurda e aterradora – e é justo isso que nos leva a ter esperança.
Talvez você tenha caído nas armadilhas misóginas em torno da trama; talvez você tenha dado trela à fala predominante de uma turba de pretensos supremacistas e fascistinhas sub-letrados que espumaram bile contral este The Last of Us – Part II…
O que posso dizer é bastante simples: se este jogo não mexeu com você, é porque não entendeu absolutamente nada sobre o jogo, sua lógica e a realidade que nos cerca contemporaneamente.
Sinto, mas The Last of Us – Part II é um dos jogos mais brilhantes já produzidos. O tempo confirmará…
“By the time I got to New York I was living like a king There I’d used up all my money I was looking for your ass This way or no way You know, I’ll be free Just like that bluebird”
O trecho acima é de Lazarus, canção que está naquele disco que pode ser considerado a melhor acabada despedida de David Bowie: Blackstar. O disco foi lançado quando Bowie completou 69 anos e, dois dias após seu lançamento, ele deixaria a existência. A canção é sobre esta despedida e, para além desta faixa, tudo está lá em Blackstar: o apelo à vida, a busca por redenção e a certeza de que os dias estão terminando. Não é um disco fácil, mas é o testamento de Bowie.
Por que diabos escrevo sobre Bowie quando quero falar de Bob Dylan e seu trabalho mais recente? Porque “Rough And Rowdy Ways”, novo trabalho de Dylan após oito anos desde o disco anterior, “Tempest”, de 2012, envereda por caminho semelhante àquele traçado pelo Blackstar de Bowie: um acerto de contas com o passado enquanto se tem tempo para tal, mas também uma prece para os dias e caminhos difíceis ainda a trilhar a partir daqui.
“I Contain Multitudes”, canção que abre o disco, entrega já nos seus primeiros versos a reflexão sobre como tem sido existir nesses dias e como um dos maiores poetas de nossos tempos tem lidado com a inevitabilidade e como esta urge em um dialogo com sua poesia:
“I have no apologies to make Everything’s flowing all at the same time I live on the boulevard of crime I drive fast cars, and I eat fast foods I contain multitudes”
É nessa mesma canção que Dylan busca por Poe e Blake: os fundamentos de sua reflexão, de sua lírica em torno do fim à espreita em suas mais diferentes manifestações e, com isso, nos diz que, apesar de já em conta, ainda há histórias a contar, reflexões a fazer e perspectivas a desnudar enquanto os dias não findam…
Dylan alfineta com a afirmação que não é “nenhum falso profeta: apenas sabe o que sabe e diz o que precisa ser dito” em “False Profet”, segunda faixa do disco. Nela, Dylan lança ainda mais lenha nesta estranha fogueira que o cantor acende para refletir sobre si, seu lugar neste mundo revolto e o quão resignado está ao não mais poder/querer intervir em seus rumos.
Lembremos do jovem Bob Dylan, das canções de protesto, das canções sobre amor, guerra, fé, tristezas e alegrias; lembremos do Dylan que movia multidões em torno de sua presença e que desenhou parte da paisagem cultural do Século XX. Bem, é este Dylan que se apresenta para nos lembrar que tudo o que dissera ao longo das décadas de sua travessia, mais que fazê-lo orgulhoso de seu legado, parece o amargurar.
“Black Rider”, quinta faixa do álbum, parece aprofundar ainda mais o que Dylan pensa sobre seus dias neste mundo:
“Black rider, black rider, all dressed in black I’m walking away, you try to make me look back My heart is at rest, I’d like to keep it that way I don’t wanna fight, at least not today Go home to your wife, stop visiting mine One of these days I’ll forget to be kind”.
A canção mais parece uma conversa entre conhecidos, parceiros, entre indivíduos que nunca deixaram de se encontrar. Este é um ponto interessante desta faixa: aquele com quem Dylan dialoga mais parece um mensageiro que o obriga a rememorar seu passado e é uma das minhas canções favoritas deste disco.
“Rough And Rowdy Ways” não é um disco fácil e não agradará a todos, mas é certo que despertará bastante atenção por tudo o que Dylan destila em suas dez faixas. Quando sugiro parágrafos acima a comparação entre este disco e o “Blackstar” de Bowie esta se dá devido a toda carga pessoal, íntima, que Dylan imprime.
Desafio qualquer um a resistir e permanece impassível aos 17 minutos de “Murder Most Foul” e não apenas à narrativa de Bob Dylan para a morte de John F. Kennedy, mas ao percurso que ele faz pela década de 1960 e seus diferentes heróis e fontes de inspiração.
“Rough And Rowdy Ways” é um acerto de contas de um poeta com sua história e arte. Não, novamente, um acaso que Poe e Blake estejam lá: Dylan homenageia seus amigos e heróis porque sabe que deixa sua marca na história e cultura; Dylan sabe que será eterno.
Deve ser algo com a água. Senão isso, não vejo alternativas coerentes para explicar o porque de, nos últimos dez, quinze ou vinte anos, Glasgow, na boa Escócia velha de guerra, surgirem bandas com grandes chances de nos apontar alguma direção frente ao marasmo. Nomes como Jesus & Mary Chain, Primal Scream, Franz Ferdinand, Mogwai e Teenage Fanclub são exemplos de que, em algum momento, como em um ato de bondade divina, o cenário musical voltou seus olhos para as highlands . Talvez esta seja a missão da Glasvegas: banda que sapecou seu álbum de estréia homônimo e vem colecionando elogios – e críticas, pois ninguém é de ferro -, despontando como uma das novidades aparentemente promissoras de 2008.
Glasvegas, o disco, é um trabalho consistente, maduro e, mais que isso, revestido pelo que acredito ser necessário a qualquer trabalho de arte: uma certa dose tragicômica ideal para provocar nossos sentidos. Bebendo ora na fonte concebida por Phil Spector, ora nos conterrâneos, a Glasvegas consegue um resultado que surpreende e, mais que isso, não nos deixa mais em paz. Depois de duas audições de Daddy’s Gone, faixa de trabalho do grupo, garanto que algo não abandonará seu hipotálamo por um certo tempo…
Mas, de volta ao princípio, com uma mistura que sublima o pop com guitarras etéreas na medida certa, Glasvegas acerta ao misturar harmonias que enveredam pelo mais adocicado pop na mesma proporção em que explora temas pouco simplórios. Senão isso, como explicar um tema ensolarado como You Are My Sunshine fechando uma típica canção-fossa como Flowers And Football Tops. Ironia ferina e nos seus melhores acordes, diga-se.
Dito isso, o disco segue em um crescendo. Somente isso para explicar canções como It’s My Own Cheating Heart That Makes Me Cry que, como o título já sugere, praticamente obriga o ouvinte a procurar o bar mais próximo para afogar quaisquer das suas mágoas – passadas ou vindouras.
Geraldine, por sua vez, é sobre um anjo da guarda/assistente social que resgata almas atormentadas antes que estas cometam alguma cagada, é um dos pontos excepcionais do disco. Assim, uma banda que emenda uma canção cujos versos são “I will, I will turn your tide/Do all that I can to heal you inside/I’ll be the angel on your shoulder/My name is Geraldine, I’m your social worker” tem tudo para figurar na minha lista de boas novas.
Mas o disco não é só uma trilha para afogar as mágoas. Go, Square Go é uma ajuda moral para quem em algum momento teve que enfrentar o valentão da escola. Revestida por uma atmosfera bubblegum que faria corar o velho Spector, a canção é uma das mais improváveis do disco.
Por sua vez, é com Daddy’s Gone que o disco se manifesta em plenitude. Impossível não perceber ecos das Ronettes, dos grupos vocais das décadas de 50 e 60, todos emprestando sua doçura e sonoridade para a construção de uma canção com tema cavernoso: um acerto de contas entre um filho e seu pai ausente. Daddy’s Gone impressiona: toma forma, ganha força e, nos seus segundos finais, explode em guitarras sobrepostas. Há algum tempo o termo wall of sound não ganhava uma representação tão a altura.
No fim, com Ice Cream Van, podemos perceber que Glasvegas pode até ser mais um hype daqueles, porém, fechando o disco, vem mais um empurrão: “There’s a storm on the horizon/And for that I can’t see the sun/For I’ll keep a waiting on the pavement/For the ice-cream van to come“. E assim somos novamente questionados: por que Glasgow e sua música conseguem nos provocar de modo tão singular? No fim, acho mesmo que deve ser a água…
Na primeira vez em que li alguma coisa sobre Fábulas – série da linha Vertigo da DC -, torcer o nariz foi minha reação. Não sei, mas, naquele momento, aparentemente, não estava no clima certo – somente isso para explicar o porquê de não ter sido arrebatado, como fui agora, por esta que é, desde já, uma das mais interessantes HQs dos últimos tempos.
Para muitos, Fábulas é herdeira direta de Sandman – os órfãos de Morpheus insistem nesta tecla; acredito que não é bem por aí. A série de Bill Willingham – criada em 2003 e desde então um sucesso entre os fãs de HQs – detém vida e qualidades próprias: segundo o autor, desde criança imaginava o que aconteceria se os personagens de contos de fadas e fábulas fossem retirados de seus universos originais.
Que caminhos percorreriam tais personagens? Qual teria sido o destino de Chapeuzinho Vermelho depois da morte do Lobo Mau? O que aconteceu com a Branca de Neve depois de se casar com o Príncipe Encantado? Todas as fábulas vivem felizes para sempre? Willingham formula algumas alternativas interessantes para estas e outras perguntas – algumas respostas são, na maioria das vezes, nenhum pouco infantis.
A verdade é que Fábulas – lançada no Brasil inicialmente pela Devir e agora sob os cuidados da Pixel Media – nos conduz através das desventuras das fábulas e seu exílio em nosso mundo. Expulsos pelo misterioso Adversário, muitos dos personagens das histórias de Esopo, Grimm e tantos outros buscaram refúgio em nosso mundo depois que as tropas do invasor inimigo passaram a perseguir e destruir um a um os reinos destas criaturas.
Fundaram, depois de sua chegada ao mundo dos humanos, uma comunidade conhecida como Cidade das Fábulas, nos arredores de Nova York, e, ora liderados pela Branca de Neve – depois que essa, traída pelo Príncipe Encantado, desencanou dos bonitões –, se organizam para aquela que pode ser a batalha final contra o Adversário.
No Brasil, como disse, a Devir lançou dois volumes encadernando os dois primeiros arcos de Fábulas (estes, justamente, não me chamaram a atenção inicialmente). Em junho, com o terceiro número da Pixel Magazine, a Pixel Media deu continuidade à trama.
O Último Castelo foi a aventura escolhida pela editora para reiniciar a cronologia da série por aqui: uma aventura que mostra o último reduto de resistência das fábulas contra as investidas do Adversário. Com ilustrações de Craig Hamilton e roteiro de Willingham, O Último Castelo é uma das HQs mais impressionantes que tive a oportunidade de ler: não somente por sua trama, mas pelo refinamento com que as situações paralelas transcorrem, mostrando o talento de Willingham.
Mas, se você realmente deseja entender porque Fábulas é realmente uma das melhores HQs dos últimos tempos, a sugestão é 1001 Noites cujo terceiro número está nas bancas: escrita por Willingham e ilustrada por artistas do calibre de James Jean (atualmente, capista oficial da série), Brian Bolland (A Piada Mortal e Camelot 3000) e Jill Thompson, 1001 Noites é arrebatadora.
Não apenas nos responde muitas das perguntas que figuram soltas durante a série, mas, graças à Branca de Neve, nos conduz através de uma inteligente recriação das 1001 Noites. Na aventura, em busca de apoio para a batalha contra o Adversário que se aproxima, Branca de Neve segue em direção ao mundo das fábulas do Oriente.
Branca de Neve termina prisioneira do Rei Shahryar – personagem de As 1001 Noites e, bem, um corno mal-resolvido que, noite após noite, executa suas esposas. Para livrar-se do destino de suas antecessoras, Branca de Neva passa a narrar as desventuras de seus iguais e parte de sua trajetória até a Cidade das Fábulas.
A partir daí somos apresentado ao talento de Willingham em contar histórias incríveis: 1001 Noites é um ótimo cartão de visitas para os que ainda não conhecem a série. Mordi a língua e não me arrependo: Fábulas detém todas as indicações de que se transformará em um clássico e Willingham um dos grandes escritores de HQs desta geração.
Um Superman como nunca se viu. Esta é a primeira impressão que o leitor terá ao conferir Grandes Astros: Superman que chegou às bancas brasileiras em Janeiro e agora pousou nas minhas mãos. A publicação apresenta ao público brasileiro as “diabruras” que vêm sendo promovidas pela dupla Grant Morrison & Frank Quitely no título All-Star Superman.
Os dois foram responsáveis por uma das revistas mais bacanas de 2005, We3, e também pela revolução que tomou conta dos X-Men quando da passagem de Morrison pela publicação – meses antes da DC Comics renovar seu passe junto à editora. Morrison já tinha passado pela DC e deixado sua marca: Homem-Animal, Os Invisíveis e o clássico Asilo Arkham são alguns dos petardos do cidadão – sem falar na fase da Liga da Justiça roteirizada por ele e sua incursão pela séria DC: Um Milhão. Know-how o cidadão tem de sobra…
A linha All-Star, no EUA, vem redefinindo alguns dos principais personagens da DC. A idéia é bem simples: grandes nomes – roteiristas, ilustradores, arte-finalistas, etc. – com total autonomia criativa para redefinirem (caso de All-Star Batman & Robin, lançada aqui sob o título de Grandes Astros: Batman & Robin que está sob o comando de Frank Miller e Jim Lee) ou mesmo conduzir seus personagens através de novas perspectivas. Capa deGrandes Astros: Superman lançada em janeiro pela Panini Comics
No caso de Grandes Astros: Superman, a idéia de Morrison é que cada edição detivesse vida própria; as aventuras não fariam parte de um imenso arco ou dependeriam disso para apresentar algum sentido. No entanto, mesmo sob tal conceito, as aventuras fariam parte de algo apelidado pelo autor como “Os Doze Super-Desafios”; uma profissão de fé a qual o Homem de Aço se submeteria. All-Star Superman está em sua sexta edição lá fora e, tendo lido todas, posso dizer que a aposta de Morrison é alta e inovadora à estratosfera…
Na primeira edição, para ter-se uma idéia – justamente aquela que chega ao Brasil – os quatros quadros que inauguram esta nova fase contam a origem do personagem: sem firulas, frescuras e outras bobagens. Morrison foi saudado por resgatar o herói – recém saído dos eventos meia-boca de Crise Infinita – e apresentá-lo de uma maneira, pra ficar em um adjetivo menor, empolgante.
A edição, como disse, abre com quatro quadros traçando a origem do Superman; depois disso, saltamos direto para o Sol e lá nos deparamos com os Helionautas: um grupo de cientistas do Projeto DNA que promovem pesquisas na superfície solar. A ação decorre quando uma criatura enviada por Lex Luthor pretende explodir a expedição.
Uma das sacadas interessantes desta apresentação é, primeiro, o diálogo entre Luthor e o General Lane. É neste instante, quando Luthor chega à conclusão de que seus dias estão irremediavelmente acabando e o Superman não envelhece, que somos apresentados à linha que guiará a trama de alguns dos próximos capítulos da série: Lex Luthor movendo o planeta para obter sua vitória sobre o Homem de Aço.
Após a derrota do “homem-bomba” criado por Luthor, Superman é alertado que seu passeio pela superfície solar sobrecarregou suas células e que estas começaram a morrer. Sua fonte de energia decretou sua morte… Mais uma vez Grant Morrison faz um passeio pelo mundo ultra-tecnológico: replicação por DNA Bizarro; citações a Ray Bradbury; Nanotecnologia; tudo que possa virar a cabeça do leitor ao avesso – assim como fez com We3 e Os Invisíveis…
Depois de retornar a Terra – tendo descoberto que sobram-lhe poucos dias de vida –, Superman tem em mente algumas ações que somente comprando a revista você descobrirá…
Bem… Se de um lado temos o genial roteirista chamado Grant Morrison, de outro temos o traço de Frank Quitely. Devo ter uma lista de pelo menos quinze adjetivos enaltecendo a técnica de Quitely: todos não conseguem chegar perto da qualidade do trabalho do cidadão. A capa desta primeira edição, por exemplo, fala por si: um Superman sereno, sentado em uma nuvem sobre Metrópolis, aproveitando os primeiros raios de um nascer do Sol. Incrível…
No interior da revista, Quitely dá vida às pirações de Morrison com seqüências e planos impressionantes. Um dos exemplos mais incríveis é aquele que narra o intervalo entre o diálogo entre Luthor, General Lane e o Homem-Bomba a bordo da nave Ray Bradbury. Outro ponto alto é o encontro do Superman com as cópias produzidas pelo Projeto DNA a partir das células de Bizarro – culminando com a apresentação dos Titãs Expedicionários e Nanonautas.
O estilo de Quitely – grandiloqüente e minucioso – tem sido uma das causas para os atrasos da publicação, fazendo com que os fãs arranquem os cabelos enquanto esperam a próxima edição. Apesar de tudo, Quitely continua imbatível: seu traço e cuidado com as cores lembra o estilo de Moebius – provavelmente uma de suas influências…
No mais, meu caro, gaste alguns Reais (R$ 3,90 para ser exato) e confira a primeira edição de Grandes Astros: Superman. Deixe de ser mão-de-vaca…
Diferente de seus pares surgidos com o “boom do indie rock” no início desta década, o Raveonettes se distingüia por flertar com uma sonoridade que flertava com o mais açucarado pop e o mais carregado feedback; do pandemônio de ruídos do Velvet Underground a Phil Spector e seu wall of sound, passando por crias deste cruzamento como Sonic Youth, Cramps e Jesus & The Mary Chain.
Piada fácil, logo as comparações ganharam o dia e a associação entre o som do Raveonettes e o JAMC ganhou mais atenção que o que a banda tinha a dizer; inspiração sobrepujando e obscurecendo inspirados: como se todos estivessem órfãos e procurando por um pouco de doçura e barulheira, o Raveonettes – como o Black Rebel Motorcycle Club – tiveram o “666 dos Reid” tatuado na testa. Entretanto, com a sucessão de discos, o que para muitos parecia pura “chupação” passou a cristalizar-se como marca do groupo. Lust Lust Lust, novo álbum dos dinamarqueses, comprova tal evolução.
O quarto trabalho do Raveonettes pode aparentar apenas um passo adiante na devoção que a banda nutre – especialmente Sune Rose Wagner (Guitarras e Vocais) – por bandas do quilate de JAMC, Sonic Youth e Velvet Underground. Porém como uma a primeira audição pouco ou nada pode dizer sobre um disco, basta um pouco de atenção à discografia da banda – e mais um pouco em torno de Lust Lust Lust – para que, após uma leitura das entrelinnhas, esta impressão perca seu sentido (ou pelo menos não se apresente como a mais evidente).
Como seu predecessor, Pretty in Black (2005), Lust Lust Lust soa mais contido – diferente de Whip it On (primeiro trabalho de 2002) e The Chain Gang of Love (2003). Contido, mas não limitado: é visível a evolução do Raveonettes enquanto banda; o mais grudento pop mesclado à muralha de feedbacks de guitarra tranformam canções como Aly, Walk With Me e Dead Sounds em canções impecáveis.
Reside aí, nesta combinação de elementos estranhos, mas não improváveis, uma das marcas do Raveonettes: Ronettes e Velvet Underground brincando com canções que beiram o mais grudento bubblegum embalados sob uma fórmula básica – canções com até quatro minutos e que tenham o acorde Bb Menor em sua base.
Em Lust Lust Lust, por sua vez, a “fórmula” é encarada como uma premissa para a construção de um álbum sólido. Aly, Walk With Me abre o disco e demonstra muito bem tal idéia: uma canção climática, densa e grudenta ao cubo. Hallucinations segue a mesma linha: cresce, explode e volta à contenção para repetir o mesmo processo e termina tomando de assalto nosso hipotálamo. Os vocais de Wagner e Sharin Foo (Baixo/Voz), beirando em alguns momentos o etéreo – lembrando Phil Spector -, pontuam ainda mais as canções com uma atmosfera pop.
Dead Sound e Black Satin são, desde já, duas das melhores canções do ano: perfeitas e donas de uma sonoridade capaz de fazer um bispo da Universal bater o “pezinho” desesperadamente e se perguntar se o “tinhoso” tem algo a ver com isso. Vale acrescentar que, com You Want Candy, esse mesmo cidadão se perguntaria o que diabos seria aquela sensação que o obriga a assobiá-la incontrolável e inexplicavelmente.
Lust Lust Lust periga não entrar em muitas das listas de melhores do ano; não chegará sequer perto de ser considerado como tal – o posto, até o momento, segue com PJ Harvey e seu impressionante White Chalk – mas merece a condição de “última grande surpresa de 2007″. Não é todo o dia que temos a chance de ouvir um disco verdadeira e deliciosamente divertido; um disco que teima em apontar para o lado divertido de se estar vivo: o tesão pelo rock’n’roll em sua melhor e mais pop tradução.
Vejam… Durante muito, o Coringa de Alan Moore para A Piada Mortal, considerado por muitos a HQ definitiva acerca da relação do personagem com o Batman. O conto de Moore é uma história de fundação para o personagem e se juntava a várias outras leituras que estabeleciam o personagem como o vilão definitivo, a contraparte tanto de Bruce Wayne e do próprio Batman: uma força incontrolável – e que ao mesmo tempo levantava dúvidas sobre a capacidade do cruzado embuçado de derrotá-lo.
Nas telas, o Coringa ganhou algumas leituras…
Na TV, César Romero e sua caricatura insana para o personagem na série do Batman da década de 1960 foi fundamental para o estabelecimento de uma lógica particular: a do palhaço alucinado e, mesmo louco, capaz de tirar gargalhadas por suas tiradas. Aquela era a lógica e esta dialogava com as HQs – estas reprimidas por um código de conduta que restringia os limites do personagem.
Mas tal código de conduta perderia o sentido com o fim dos anos 1970 e a renovação que se seguira com os anos 1980-1990…
É a partir daí que a imagem do Coringa começa a ser dissecada/construída em diferentes aventuras – desde A Piada Mortal (1988), de Alan Moore e Brian Bolland, passando por Morte em Família (1988-1989), de Jim Starlin e Jim Aparo, e chegando a Asilo Arkham (1989), de Grant Morrison e Dave McKean – que de certa maneira estabeleceram as fundações do personagem no período pós-Crise nas Infinitas Terras e estas se estabeleceram como que alinhadas com as premissas distópicas estabelecidas por Frank Miller para o Batman e seu principal adversário em O Cavaleiro das Trevas (1986).
É nesta transição pós-Crise que o Coringa assume suas facetas mais assustadoras e emerge como uma força dona de uma identidade multifacetada e, ao mesmo tempo, cativante – não sendo por acaso que o personagem dispute o coração dos fãs do Batman como uma de suas forças primordiais (algo que desagua de certa forma na visão proposta para o personagem por Scott Snyder em Morte da Família, arco de 2012 em que o Coringa ataca toda a bat-família buscando destroçá-la.
Algo que fica claro ao longo das décadas de aventuras do Batman contra seu maior inimigo é que ele, o Coringa, sempre volta. Seja caindo de um helicóptero, baleado fatalmente, preso no Arkham, desaparecendo nas águas ao redor de Gotham ou qualquer outro evento que o tire de cena, é certo que ele retornará para mais um embate.
Podemos dizer que o Coringa nas telas lida com a mesma dinâmica: um eterno retorno, como se cada uma de suas encarnações nas telas funcionasse como elementos em constante complementação/expansão: a loucura niilista do personagem em um filme se recombina com a resistência ao real e seus atores em outro. O Coringa sempre retorna em busca de uma nova chance.
Este me parece o ponto deste novo filme. O Coringa que lá está interpretado de modo brilhante por Joaquin Phoenix é impecável, mas distinto daquele de Heath Ledger ou o de Jack Nicholson: aqueles são outros Coringas que alimentam e emprestam algo a este último; outros Coringas, cada qual com suas peculiaridades, atribuindo sentidos ao mesmo sujeito.
O Coringa de Joaquin Phoenix não é menos potência que aquele de Heath Ledger ou Jack Nicholson: cada um desses intérpretes contribuíram para uma identidade fílmica do personagem. Porém, a interpretação de Phoenix para o longa de Todd Phillips lida com outros demônios: a gênese de Arthur Fleck no grande vilão que é o Coringa é um mergulho na psiquê de alguém que adoece ante o mundo, o real e este adoecer o faz implodir.
Fleck cai e ao levantar-se o faz como o Coringa. O personagem levanta tanto como ofensa quanto ofendido e quer a desforra. O enlouquecer de Fleck, demonstrado em diferentes cenas e que culmina com a gênese do Coringa, guarda profundas semelhanças com aquele do protótipo de gangster sem-nome que mergulha em uma piscina de reagentes químicos para escapar do Batman em A Piada Mortal de Alan Moore: temos uma dinâmica semelhante que nos envolve no adoecer de ambas as versões de um mesmo sujeito.
Por isso que a versão de Ledger é a de outra faceta para o mesmo palhaço; por isso que a de Nicholson dialoga com outra face do mesmo personagem – aquela espalhafatosa e cômica dos anos 1960 de modo mais evidente. O Coringa de Phoenix e Phillips nos apresentara uma grande história de fundação que nunca fora contada até aqui – seja nas telas ou nos quadrinhos.
O grande mérito deste Coringa de Phonix é que a tela ficou pequena para a explosão de emoções que nos envolve, forçando-nos a discutir o quão grandiosas foram diferentes personificações de um mesmo papel. Esta não é uma versão definitiva para o personagem, mas seu recomeço que recolhe elementos de todos que vieram antes dele.
Este é mais um dos muitos retornos de um vilão à espera de seu nemesis… Um retorno triunfal e peculiar; um sério retorno em um sério mundo, diga-se.
Estou ficando velho… Verdade, estou. Não lembro quando ouvi Dummy do Portishead pela primeira vez: pra falar a verdade, creio ter começado a ouvir a banda em algum momento dos anos 1990 enquanto me enterrava nas noites de domingo vendo o que diabos o Fábio Massari tirava da cartola no Lado B MTV…
Creio que foi Numb, mas juro não ter certeza. Só lembro da garotinha cantando junto com a Beth Gibbons e como aquilo era, ao mesmo tempo, estranho, moderno e desconfortavelmente lindo. O Portishead se tornou, a partir daquele instante, uma das minhas obsessões da segunda metade dos anos 1990: precisava ouvir/ver/ter tudo o que eles produziriam/produziram porque, bem… Porque sim!
Dummy é de 1994. Naquele ano, em Natal, no Rio Grande do Norte, ainda estávamos embalados pelas camisas de flanela do Grunge e que tais. Como expliquei, só viria a prestar atenção ao Portishead através dos vídeos que pescava no Lado B MTV sob a batuta do Fábio Massari. É provável que tenha ouvido o disco pela primeira vez entre 1997 e 1998: mas, naquele ano, já tínhamos em rotação o Portishead, segundo disco da banda de Madame Gibbons e sua trupe.
Portishead, o disco, é tão brilhante quanto Dummy, mas a urgência do primeiro se sobressai. Era jazzy, moderno, um salto à frente de seu tempo: não tínhamos idéia do que diabos era trip hop ou o quão a música eletrônica evoluiria a partir dali, mas aquele disco soturno, com uma capa azulada e que trazia o frame de um curta – To Kill a Dead Man, para ser mais exato – que a banda produzira para lançar o álbum, era tudo o que mais queríamos ouvir…
Dummy completa 25 anos. Incrível como aquele primeiro disco do Portishead envelheceu bem, mantendo todo seu viço e frescor. Parabéns a Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley por brindar-nos com um trabalho tão belo e consistente: vocês não têm a menor idéia de quantas noites e tragos foram acompanhadas por esta obra-prima que vocês puseram no mundo…
Ainda espero poder ter a companhia desta maravilha por mais outros vinte e cinco anos…
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