E não é que o Batman, aquele detetive sombrio criado por Bob Kane e Bill Finger, chegou aos 75 anos de existência!? Foram muitas as transformações sofridas pelo personagem até os dias de hoje – desde o estilo camp do seriado e de muitas de suas histórias nas décadas de 50 e 60, passando pela profunda reformulação de sua imagem nas décadas de 80 e 90.
Entretanto, foi devido a tais transformações que o herói conseguiu sobreviver todo esse tempo – mesmo que, como tantos, tenha tido que morrer uma vez e ser imobilizado uma ou duas por seus arqui-inimigos. Pensando nisso, imaginei um breve lista daquelas que considero as melhores histórias já escritas do personagem – sem me preocupar com qualquer aprofundamento em torno desta análise: aventuras que fundamentaram, reformularam ou mesmo expandiram ou homenagearam o personagem.
Enfim, é mais uma lista e ponto. Aproveitem…
10. Batman: Morte em Família
Um belo dia Jason Todd, o Robin da vez, terminou por encher o saco do pessoal da DC Comics e, bem, estes decretaram que ele deveria partir desta para melhor. Porém, escrita por Jim Starlin e ilustrada por Jim Aparo, pode ser considerada como uma das melhores sagas já escritas para o morcegão – mesmo que à toque de caixa, claro.
Depois de uma discussão, Jason Todd decide partir em busca de sua mãe – até então desaparecida. A questão é que “no meio do caminho tinha um Coringa; tinha um Coringa no meio do caminhoa”: Todd é capturado, brutalizado e, por fim, morto em uma explosão – para desespero do Batman, que o encontra já morto e o carrega nos braços em uma das mais icônicas páginas das Histórias em Quadrinhos.
Na boa, Morte em Família é um clássico absoluto, mesmo que as motivações por trás do arco não sejam as melhores…
9. Planetary/Batman: Noite na Terra
Uma das minhas favoritas desde sempre, Planetary/Batman: Noite na Terra é, sobretudo, uma bela homenagem à mitologia do morcegão. Quando a equipe do Planetary viaja até a cidade de Gotham City para localizar um homem chamado John Black – enolvido em uma série de estranhas mortes.
Chegando à cidade e recepcionados pelos investigadores responsáveis pelo caso, Elijah Snow, Jakita Wagner e o Baterista logo ficam cara-a-cara com Black. Porém percebem que as mortes provocas por Black resultam de um distúrbio no tecido do espaço-tempo.
Como descobrem isso? Dão de cara com o Batman em pessoa – mas não apenas um, mas várias versões do personagem. O grande barato em Planetary/Batman: Noite na Terra é o jogo que Warren Ellis e John Cassaday fazem com a mitologia do Batman através dos tempos. Além disso, a história concebida por Ellis é um clássico imediato tanto para a mitologia do Batman quanto para o próprio Planetary.
8. Batman: O Messias
Acorrentado, dopado e fragilizado. Este é o Batman que emerge das primeiras páginas de Batman: O Messias. Escrita por Jim Starlin e ilustrada por Bernie Wrightson, a história é impressionante: acordado de um pesadelo, jogado nos esgotos de Gotham City, Batman descobre-se derrotado pelo Diácono Joseph Blackfire que vem arregimentando uma horda de mendigos, sem-teto e outros párias para “limpar” as ruas da cidade.
Batman: O Messias de certa maneira expande a transformação promovida por Frank Miller em Batman: O Cavaleiro das Trevas, uma vez que apresenta um personagem humano e distante do infalível e destemido detetive enbuçado. O roteiro de Starlin é afiado e os desenhos de Bernie Wrightson transformam esta aventura em algo indispensável.
7. Batman: O Longo Dia das Bruxas
Esqueça todo o blá-blá-blá sobre o tal assassina Feriado: o que importa em Batman: O Longo Dia das Bruxas é Harvey Dent. Da primeira à última frase deste arco, o que vemos é a ascensão de um dos principais vilões do Batman. Não por acaso, os assassinatos que atravessam a história contada por Jeph Loeb e Tim Sale – por este último embalada em uma atmosfera noir impressionante – são pequenos lembretes que se reunirão no climax que as páginas finais da série reservam.
Também não foi pro acaso que vemos muito da série em The Dark Knight do diretor Christopher Nolan: de longe, o melhor filme já feito sobre o Batman. A série é um deleite visual e narrativo e, por isso, merece o seu lugar em nossa lista.
6. Batman: O Filho do Demônio
Sabe aquela história que você sabe que provavelmente renderá um porrilhão de histórias igualmente bacanas? Pois bem, se na última década você acompanhou o trabalho que Grant Morrison desenvolveu com o Batman, você certamente deveria dar uma olhada no que Mike W. Barr e Jerry Bingham fizeram com Batman: O Filho do Demônio.
Na história, Batman une forças com Ra’s Al Ghul contra uma organização terrorista comandada por um ex-aliado de Al Ghul: Qayin. Barr ao longo da revista, além do conflito entre a Liga dos Assassinos com Qayin, explora a paixão que Talia Al Ghul nutre pelo Batman e ela revela que está esperando um filho dele. Tudo degringola, Qayin ataca o QG da Liga, Talia é ferida, o Batman derrota o vilão e se despede da filha de Ra’s.
O resultado é conhecido: alguns anos depois Grant Morrison solta Damian, o Filho do Batman, para o mundo. A verdade é que Batman: O Filho do Demônio é daquelas revistas que mudam cronologias e, por isso, é uma das dez mais…
5. Batman: Xamã
Esta é mais um dos arcos que acompanharam a reformulação pós-Cavaleiro das Trevas e pós-Crise nas Infinitas Terras: Batman: Xamã é mais um capítulo que conta a história da ascensão do personagem e se coloca imediatamente após Batman: Ano Um.
Xamã mostra um Batman ainda aprendendo com seus erros e um deles foi a tentativa de capturar o assassino Thomas Woodley. Acompanhado por um caçador de recompensas, Bruce Wayne segue Wooodley às montanhas mas é atacado por este: Woodley despenca para a morte e o futuro Batman fica perdido no frio das montanhas.
Resgatado por um grupo de índios, Wayne é curado pelo xamã da tribo. De volta a Gotham e já atuando como o Batman, o detetive se vê às voltas com um grupo de adoradores de uma seita. Batman descobre que a seita tem vínculo com a tribo que o acolhera quando de seu resgate nas montanhas.
Provavelmente o que mais chama a atenção em Batman: Xamã é a apresentação de um Batman reticente, inseguro. Escrita por Dennis O’Neil e ilustrada por Ed Hannigan, Xamã é de longe uma das melhores histórias já contadas sobre o personagem e, mais, sobre sua evolução.
4. Batman: Asilo Arkham
E eis que Grant Morrison e Dave McKean aprontam um dos clássicos absolutos do herói. O Asilo Arkham é tomado por seus “moradores” e o Batman é convocado para lidar com a situação: ameaçando matar uma garotinha, o Coringa obriga o Batman a entrar no asilo e participar de disputa por sua sobrevivência contra seus maiores vilões.
O texto de Grant Morrison mira em uma vertente: até que ponto o Batman pode resistir ao ter sua sanidade desafiada até o ponto de “quebrar”? Como o Coringa interroga, ele não deveria estar junto aos demais internos do Arkham? Além disso, somos apresentados ao que se esconde nas paredes do próprio asilo – uma séria casa em um sério mundo, como diz o subtítulo da graphic novel – e à história de Amadeus Arkham e sobre como o morcego paira sobre o asilo desde suas fundações.
Em Batman: Asilo Arkham, Morrison não só expande os limites da mitologia do personagem mas, contando com a arte igualmente insana de McKean, nos lembra que, antes de mais nada, o Batman possui demônios que o qalificariam para uma boa estada junto com os demais insanos do Arkham. Entretanto, em um séria casa, alguém precisa manter as chaves sob controle…
3. Batman: Ano Um
Um ano depois de causar o maior alvoroço em torno do personagem com o seu O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller e David Mazzucchelli resolveram sacudir novamente o universo do personagem recontando sua origem. Batman: Ano Um veio na esteira de reformulações de uma DC Comics pós-Crise Nas Infinitas Terras e do esforço por recontar as origens de seus principais personagens.
Diferente do Batman de O Cavaleiro das Trevas, Miller e Mazzucchelli mostram um personagem frágil, inseguro, mas determinado a combater o crime pelas ruas de Gotham – mesmo que para isso tenha que pagar um preço – no início de sua trajetória até meter sua bota nos queixos do Superman…
A dupla Miller-Mazzucchelli vinha de um outro sucesso astrondoso com o Demolidor no arco A Queda de Murdock para a Marvel Comics. Batman: Ano Um se propunha não apenas a apresentar o personagem e sua origens, mas em explicitar seus elementos fundamentais e como aqueles primeiros anos atravessariam sua jornada de combate ao crime.
Não é por acaso que Batman: Ano Um está na gênese de Batman Begins, de Christopher Nolan – tanto que uma das cenas da HQ (o resgate do filho do Comissário Gordon) é literalmente reproduzida nas telas. Batman: Ano Um é, sem dúvida, um dos clássicos indispensáveis do personagem.
2. Batman: O Cavaleiro das Trevas
E foi em fevereiro de 1986 que Frank Miller decidiu lançar um sopro de renovação no velho morcegão e chacoalar o pequeno mundinho do personagem de cima a baixo. Batman: O Cavaleiro das Trevas foi o grande responsável por estabelecer as características do personagem às portas do novo século.
Miller lançou as bases para que muitos autores expandissem a mitologia do Batman e pistas para que sujeitos como Alan Moore e Grant Morrison lançassem toda a sorte de possibilidades narrativas, focando nas fragilidades, valores e medos do personagem.
A Gotham City de Batman: O Cavaleiro das Trevas é parte de um mundo em permanente de tensão, já que na realidade da série, a Guerra Fria não acabou e o ainda presidente Ronald Reagan crê que combater os soviéticos é o que realmente importa – e o Superman é tão somente um mero instrumento contra isso.
Em Batman: O Cavaleiro das Trevas temos um Bruce Wayne que pendurou a capa do Batman e segue vivendo sua vida em uma Gotham City ainda mais distópica do que nos acostumamos a ver. Entretanto, um dia, depois de uma visita ao Beco do Crime, Wayne passa a ser atormentado pela visão de seus pais assassinados e é provocado a reassumir o papel de Batman e combater uma cidade completamente tomada pelo crime e por gangues.
O morcegão decide retornar à ativa no mesmo instante em que Harvey Dent, o Duas-Caras – agora recuperado da mutilação que fez com que perdesse a sanidade -, tenta explodir parte de Gotham com uma bomba. A partir deste primeiro episódio, vemos a ascensão de um outro Batman – que não se importa em partir a coluna de um lider de gangues diante de uma platéia, quebrar o pescoço do Coringa ou mesmo de meter uma botinada nas fuças do Superman.
Na verdade, Batman: O Cavaleiro das Trevas poderia ter sido o nosso primeiro lugar, seja pelo impacto causado ao personagem e às Histórias em Quadrinhos. Mas, só porque o Frank Miller ousou pensar em um Batman: O Cavaleiro das Trevas 2, não levará o caneco por aqui…
1. Batman: A Piada Mortal
Esta, a meu ver, é a história definitiva de Batman. Não apenas por apresentar a gênese de seu principal vilão, nem por mostrar como os dois se completam e reajem, mas, sobretudo, por apresentar um carrossel de eventos que culminam em uma interrogação; em algo aberto.
Em linhas gerais, Batman: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, é uma história do Coringa e de como ele e o Batman batalham sobre uma linha tênue. Não é por acaso que a HQ começa e termina com o mesmo quadro e, no vigésimo quinto quadro, o Batman entrega o que inevitavelmente acontecerá em algum momento entre os dois.
Nunca entendi por que nosso relacionamento é tão mortal, mas não quero ter a sua morte nas minhas mãos – afirma o Batman logo nas primeiras páginas para alguém que se passa pelo Coringa no Asilo Arkham.
Batman: A Piada Mortal é uma aventura sobre vida e morte e sobre o que estas duas condições provocam em dois personagens em uma escalada antagônica. Uma das minhas cenas favoritas é o Carrossel do Comissários Gordon: um passeio único preparado pelo Coringa para quebrar um de seus mais conhecidos algozes enquanto espera o Batman para o resgate.
O que vemos, portanto, em Batman: A Piada Mortal é um carrossel de eventos que nos leva, no fim, a uma das mais impressionantes discussões que já tomaram as Histórias em Quadrinhos, quando Grant Morrison sugere que Alan Moore faz com que o Coringa seja morto pelo Batman e que a tal Piada Mortal do título é este arranjo final.
Enfim, Batman: A Piada Mortal é um clássico, uma história poderosa do início ao fim e, sem medo de errar, a minha favorita de todos os tempos.