Ficção

We’re Waiting For The Man…

A gente o chamava de “Speedy”: era ligeiro, safo, um ás… Bastava acionar, que lá ia ele dar conta do recado: era o “emissário”, sempre a mil por hora e pronto para “resolver” geral… “Speedy” era demais: conhecia todas as quebradas de Natal, sabia quando estar e, também, tão importante quanto, quando não estar – especialmente quando as coisas davam merda.

“Speedy” era o nosso homem: aquele que esperávamos sem reclamar porque, sabíamos, ele sempre chegava chegando. Não importava a distância, havia uma força que o impulsionava: era cocaína. “Speedy” era alucinado por aquele “pó mágico”: que, vez ou outra, também buscava para nós. Não por acaso, “Speedy” quase sempre estava à toda – especialmente quando voltava.

Nós, uns moleques de classe média com alguma grana que a “mesada” nos garantia – por “mesada” entendam os assaltos às carteiras e bolsas de nossos pais – e ele era o cara certo para dar conta daquela “ponte” entre o que queríamos e o percurso até os fornecedores certos: “Speedy” conseguia “da soltinha” na seca – entendam, era quase mágico – e os melhores pontos para a “branquinha”, que era o apelido que a gente dava para você sabe o quê (e que não era cachaça, claro). Ele conseguia de tudo para nós – até as novidades: “doce”, hash, mescla…

– Ei, ei, boy: pense que essa tá primeira – costumava dizer, coçando o nariz e com aquela alegria que só quem “bate” uma é capaz de expressar com praticamente todos os músculos do corpo, mas que não revela que deu aquela grampeada marota na parada dos outros.

“Speedy” era foda. Batia os quatro cantos da cidade se quiséssemos resolver alguma bronca: ia e voltava numa boa, daí voltava e ia novamente só pra deixar tudo certo. Sabia também como não cair em ciladas e, se caísse, também como levantar e “se sair” rapidamente.

Daí o “Speedy” mudou. Desacelerou, reduziu, pisou no freio e, assim, como diz, se encontrou: virou pastor… Gonçalo era seu nome, afinal: ironia daquelas. Nunca mais o vimos correndo, virado. Casou, parou e, bem, dia desses caiu: encontrou a polícia e ela “mandou” uma para o lado da casa onde “Speedy” vivia.

Não pôde se sair, perdeu…

“Speedy” era foda, mas não era à prova de balas…

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