Que me perdoem os amigos, mas não quero lembrar de David Bowie por este último disco. Dirão alguns que tudo estava lá, sua transição, a transformação necessária para os que por Ela esperam…
Enfim… Prefiro deixar Black Star suspenso em algum lugar da minha coleção, esperando, maturando; prefiro escutá-lo quando uma certa urgência finalmente for determinante. Ainda tento assimilar com meus botões e alguma música a morte repentina – ou não tão assim – dele. Fiquei atordoado por acordar com a notícia de que ele morreu, confesso…
Porque, bem, não é fácil quando um de seus heróis morre… Não qualquer herói, mas aquele que mais lhe dizia sobre muito. Por isso, especialmente no caso de Bowie, é algo difícil: ele está naquela foto em preto e branco junto a Lou Reed e Iggy Pop; ele é parte daquela “Trindade” de heróis; ele era daqueles que sempre estiveram por aí comigo – no headphone, em casa, quando penso em música, enfim, sempre.
Bowie esteve nas mais diferentes fases dessa minha travessia: ele foi uma das minhas primeiras imagens ainda nos 80, requebrando malemolente com Mick Jagger; eu o vi atravessando as sombras dos anos 1990; o vi se reinventar nos anos 2000 e algo, mas, sempre, desafiante e revolucionário… Em todos estes momentos Bowie sempre foi mais.
Talvez por isso não queira lembrar de Bowie por um disco que, sim, penso como menor; um disco que, mesmo celebrando a vida, nos conduz à despedida. Creio que esta é a questão: não quero me despedir porque Bowie era essa tal força da natureza de potência criadora/inspiradora inigualável.
Pense nisso e reflita por um instante o quão aquela lista de bandas e música que você adora foi influenciada por alguma faceta desse moço estranho, de olhos estranhos e estranhamente inovador – e que nos apresentou de Ziggy a Thin White Duke nas mais diferentes reconfigurações/metamorfoses destes.
Dizer um até logo para David Robert Jones parece fácil mas não para David Bowie, meus amigos. Dizer adeus para o sujeito que pautou tendências na música, comportamento, fotografia, artes plásticas, cinema e tecnologia – para ficarmos nos mais óbvios – não é tarefa fácil.
Me atrevo a dizer que o mundo hoje se transformou em um lugar mais árido, sem graça, sem gosto, com a morte de Bowie.
Me atrevo a dizer que mesmo com sua história, arte e legado, me entristece saber que provavelmente ninguém terá potencial de realizar algo tão vibrante, inovador, vivo quanto este moço de Brixton….
Vá em paz moço e saiba que sua música ecoará para sempre: aquela Estrela Negra me esperará por um tempo, mas vou procurá-la em breve.