Cinema, Crítica

A Bruxa não é somente um filme de terror, mas uma indicação para o futuro do gênero

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Há o pecado. Antes dele, o pecado original e a noção de que todos os que creem carregam as marcas deixadas nos primeiros que com ele se viram marcados. A Bruxa, filme de Robert Eggers, é sobre homens pecadores e os descaminhos que estes tomam buscando negar, ignorar, contornar ou, não raro, aceitar seus pecados. Não, não é tão somente um filme de terror – está até distante disso -, mas, antes um filme sobre o temor…

Tudo começa quando uma família de puritanos é excomungada da comunidade onde vive em algum momento da colonização da América do Norte no Século , a esta só resta aceitar seu destino e seguir seu caminho em busca de seu próprio lugar naquele reino selvagem.

Assim, o patriarca William e sua mulher Katherine levam seus filhos Thomasin, Caleb, os gêmeos Mercy e Jonas e o pequeno Samuel para algum lugar onde possam construir seu paraíso. Mas este paraíso está maculado. Não pela bruxa que se esconde em um casebre na floresta, mas, sim, por aqueles que compartilham aquele pequeno pedaço de terra.

Os primeiros minutos que mostram as orações de Thomasin, a jovem que pede perdão por seus pecados, por sua arrogância, por seus desejos, é apenas o aperitivo do desenrolar de eventos que começam com o sequestro do bebê Samuel – arrastado pela Bruxa até seu esconderijo e sacrificado por ela.

A presença do mal se torna a preocupação da família: o mal escondido, sorrateiro e sombrio que habita a floresta os assusta, mas aquele que carregam individualmente, bem, este se desenrola e ganha as telas enquanto a tensão em A Bruxa torna-se mais e mais densa – até o ponto que temos a impressão de poder rasgá-la com os dedos.

Poster de "A Bruxa" de Robert Eggers.

Poster de “A Bruxa” de Robert Eggers.

Quando descobrimos as mentiras de William, os desejos de Caleb pela beleza que aflora de Thomasin, da insolência dos gêmeos e da arrogância da matriarca Katherine, estamos diante dos pecados silenciosos de cada um daqueles. O mal os envolve e este explodirá em algum momento.

O diretor Robert Eggers foi particularmente feliz em criar esta pequena alegoria do mal e de como este cobra seu preço. Elementos como roteiro, fotografia e direção de arte nos conduzem através desta jornada à perdição completa e ver esta família derrotada é a grande lição que A Bruxa nos entrega: a derrota como resultado da hipocrisia, da falta de apreço, da negação do mal, me parece o que norteia o longa de Eggers.

Para além, A Bruxa certamente motivará as mais acaloradas discussões, mas, sem medo de cometer um equivoco, posso afirmar que o filme ingressará entre aqueles de seu gênero: do horror calcado nas componentes psicológicas mais profundas, mesmo que o inusitado, o sobrenatural, o indizível esteja lá à espreita.

O diabo, como sempre, está no detalhes e em A Bruxa persistem os detalhes que tornam-no um dos melhores longas de suspense/horror já produzidos.

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