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No RN, o que são algumas escolas para um Estado às moscas?

Há algumas semanas postei um comentário no Facebook em que falava sobre o volume de recursos que a Prefeitura de Natal recebia do Ministério da Educação através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Somente no mês de março o volume de recursos correspondia a R$ 10 milhões – enquanto o acumulado do ano marcava pouco mais de R$ 139 milhões

Confesso que dava a conversa por finda, mas eis que meu Estado me surpreendeu novamente. A edição deste sábado da Tribuna do Norte , talvez o principal periódico destas paragens, trouxe em sua capa uma reportagem esclarecedora: nela, a Secretaria Estadual de Educação do RN afirma seu interesse em “reordenar” estudantes atualmente matriculados em escolas com menos de 100 alunos. Sem o trololó retórico, o que o Governo do RN planeja é, simplesmente, fechar escolas e, óbvio, que se danem os estudantes matriculados.

Daí você certamente se perguntará como isto é possível… Simples, ninguém liga. Estão indignados demais pelos motivos errados. Prova disso? O convênio nº 656284 de dezembro de 2009 pode lançar algumas luzes sobre o tema, já que “tem por objeto a construção de Escolas em atendimento ao Plano de Ações Articuladas (PAR) no âmbito do ‘Plano de Metas Compromisso pela Educação’”: por este convênio, entre 2010 e 2014, o Governo do RN recebeu da federação a bagatela de R$ 69,5 milhões para a construção de escolas.

No Portal da Transparência do Governo Federal, para quem quiser ver, entre recursos para construção de escolas e estruturá-las, um outro convênio de 2008 destina mais R$ 62,9 milhões para infraestrutura e projetos pedagógicos da Secretaria da Educação do RN. Assim, a pergunta primordial que todos deveríamos nos fazer é: se há dinheiro para escolas e infraestrutura, por que fechar 75 unidades educacionais?

Quem deve responder tal pergunta, creio, é um governo melancólico e medíocre. Não muito diferente de todos que fincaram suas garras neste Estado de comedores de camarão!

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Rápidas

Esse tal Sérgio Sampaio…

Uma listinha de um dos cantores brasileiros que mais admiro e que, como muitos, partiu um pouco antes da hora. Sérgio Sampaio é um dos meus favoritos e esta lista é de um disco que considero seminal: Tem Que Acontecer

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Artigos

Fargo, a Série, periga se tornar tão importante quanto Fargo, o Filme…

Fargo, A Série

Foi-se o tempo dos Enlatados. Vivemos uma nova Idade de Ouro da TV, obviamente, e, com ela, produções que têm nos feito perceber que a narrativa de ficção para TV pode ser elaborada, complexa, cativante e, de quebra, nos fazer reféns de suas múltiplas possibilidades – inclusive àquela de reciclar o que fora produzido para outros meios. Este é o caso de Fargo, do canal FX, e de From Dusk to Dawn, da Netflix, que readaptam para as telas de TV narrativas ficcionais consolidadas no Cinema.

Fargo, uma das muitas e criativas crias dos irmãos Joel e Ethan Coen para o Cinema, é de longe das melhores realizações neste novo filão das “cine-series” – quando narrativas ficcionais cinematográficas são transpostas para outros meios com a manutenção de muitos dos seus argumentos originais – e parte disso se deve ao fato dos próprios Coen participarem como produtores-executivos da série.

Entretanto, apesar do nome Fargo emprestado do filme dos Coen, a trama por trás da série é original e deve pouco à sua “inspiração” na tela grande. Este me parece, de longe, um dos principais pontos da série: buscar novas narrativas possíveis ambientadas em um espaço ficcional possível – e, creio, por isso, se distância claramente de outras séries que começam a apostar em tal filão potencial.

Billy Bob Thornton

Mas, voltemos à série… Como sua irmã dos cinemas, Fargo, a Série, é humor negro derramando por todos os poros.  Somos apresentado ao matador de aluguel Lorne Marvo (Billie Bob Thornton, de O Homem Que Não Estava Lá dos Irmãos Coen) atravessando a pacata Bemijdi, no Minnesota, quando se envolve em um acidente ao atropelar um cervo que atravessa seu carro na estrada. O que se segue é um homem desesperado, nu, escapando do porta malas do carro de Marvo e correndo em direção a uma clareira tentando escapar do matador para, depois, morrer como um picolé.

Conhecemos também o vendedor de seguros Lester Nygaard (interpretado por um impecável Martin Freeman de Sherlock O Hobbit) que reencontra um valentão dos tempos da escola e termina em um hospital da cidade com o nariz quebrado. No hospital, Nygaard tem um encontro com Marvo… A partir deste, os problemas de Lester apenas começam, já que Marvo se propõe a “resolver” seu drama pessoal com um “velho amigo”.

Martin FreemanÉ estranho, mas é a relação entre extremos e caricaturas que pontua esta série. Se em um extremo temos o pacato Lester Nygaard e sua descoberta de que interiormente não é tão pacato assim, no outro temos um matador niilista que não se faz de desentendido ao envenenar todos ao redor com o simples intuito de ver o colapso generalizado daqueles com que cruza.

Mas, antes de mais nada, é preciso reafirmar: como o filme original, Fargo é uma série violenta em doses nada homeopáticas e com litros de sangue jorrando por todos os lados. Porém, como a criação original dos Coen, é dona de um singular humor negro que é, sobretudo, vibrante.

No seu lugar, procuraria assistir esta série o mais rápido possível e, mais, torcer para que ela se torne mais um exemplo desta tal Era de Ouro da TV que ora vivenciamos, afinal, pelos primeiros seus episódios, periga se tornar tão indispensável quanto o filme que a inspira.

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Artigos, Música

O mal-estar nada aparente em Everyday Robots de Damon Albarn

Damon Albarn

Damon Albarn é um gênio da música. O foi quando esteve no Blur, se tornando onipresente através da década de 1990, e o fora também nos anos 2000 com seu Gorillaz. Sim, Albarn é gênio. Entretanto, ainda que em sua condição de bardo, isto não significa dizer que seja infalível. Esta tal falibilidade é posta à prova com sua recente investida solo, o disco Everyday Robots.

Digamos assim, sem muitos rodeios: o disco é de um mau humor monumental. Não que tal idéia seja algo ruim. Ao longo da última década tivemos toda uma produção do Radiohead, hipsters e outros sujeitos do gênero mostrando o lado soporífero da Força, mas, especialmente quando escutamos o disco de Albarn e o lamento que o atravessa, é inevitável dizer:

– Moço, menos ardor com as chibatadas, tá!?

Everyday Robots é um disco chato. Não é apenas mau humorado ou “mala” – como, por exemplo, o álbum Portishead de 1997 que, de longe, é o meu favorito quando o motivo são os dissabores do mundo -, é simplesmente chato. Dispensável, pra falar a verdade: mais parece uma sessão perdida de alguém com os cotovelos inchados parida de uma audição do The Fall do Gorillaz.

Everyday RobotsDou um desconto por ser a primeira investida “solo” de Damon Albarn – mesmo que as aspas se mostrem necessárias para afirmar isso, afinal, o sujeito atravessou a última década com mais projetos do que minhas mãos podem contar. Mas é só um desconto breve porque, do apanhado de músicas destes Everyday Robots, creio que pouco se salva – sem contar que mais parece uma sessão perdida do projeto Kinshasa One Two.

Dentre aquelas que se sobressaem, entre seus mortos e feridos, está a faixa-título. Everyday Robots, a música, estabelece uma certa conversa com um outro projeto anterior de Albarn: o álbum de Bobby Womack, The Bravest Man in The Universe. É estranho, mas a chave de resposta para que possamos compreender o quanto este Everyday Robots, o álbum, é irregular está justamente na profusão de idéias que atravessa a trajetória de Albarn.

Se nas duas últimas décadas ele se fez onipresente – seja colaborando com outros ou criando projetos buscando a expansão de sua verve criativa -, esta tal não se mostra em seu disco-solo. Hostiles parece ter saído de algum momento do The Good, The Bad & The QueenLonely Press Play, de suas experimentações hipertecnológicias para o The FallMr. Tembo, de algum momento do Plastic Beach

No fim, como disse no início, mesmo gênio, Albarn peca neste Everyday Robots por apresentar uma espécie de apanhado de sua última década, mas envolvida pelo signo da irregularidade. No fim, um disco chato: por isso, prefiro esperar a segunda vinda de Damon Albarn…

 

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Crítica, Games

Bioshock Infinite ou “O Que Está no Alto é Como o Que Está Embaixo”

Bioshock Infinite

Talvez cometa algum pecado por isso, mas acredito que Bioshock é a franquia de jogos definitiva: a melhor de seu gênero e a mais criativa narrativa já concebida para o universo dos games. Acabo de concluir o terceira aventura da franquia, Bioshock Infinite, e não consigo encontrar adjetivos o suficiente para dar conta da sensação que o jogo me causou.

– Ô, véi: é só mais um FPS – dirão. Porém, desde o primeiro Bioshock e seu enredo distópico e calcado em um estética mesclando steampunk  – com a atmosfera retrô cinquentista e um ar noir sempre à espreita – me senti envolvido não apenas pela jogabilidade, mas pela narrativa que os estúdios 2K desenvolveram – naquele primeiro momento, para a cidade submarina de Rapture seus “autômatos”, suas crianças bizarras e insanos idem.

A questão é que, depois de uma segunda aventura em Rapture, a 2K resolveu inovar e expandir um pouco mais a narrativa. Daí que fomos brindados com Bioshock Infinite, terceira aventura da franquia e, com ela, descobrimos a cidade nas nuvens de Columbia e seus moradores que decidiram se afastar dos mundanos e seguir o messiânico Zachary Comstock rumo aos céus.

Uma coisa precisa ser dita: o trabalho de arte e recriação da estética dos anos 20 produzida pelo estúdio para Bioshock Infinite impressiona: uma cidade inteira nas alturas regida pela perspectiva tecnológica da revolução indústrial e suas grandiosas máquinas à vapor. Além disso, a trama é de uma complexidade narrativa inebriante.

Bioshock-Infinite-02

Encarnando o detetive particular Booker DeWitt, o jogador é apresentado à grandiosidade de Columbia e seus devotados moradores. DeWitt está à procura de jovem Elizabeth – também conhecida como “a Ovelha de Columbia”: uma misteriosa garota que foi sequestrada pelo reverendo Zachary Comstock e aprisionada no alto de uma torre protegida pelo monstro Songbird.

Agora, imagine uma cidade de fiéis fundamentalistas que de uma hora para a outra descobrem que você é a encarnação do mal. Pois bem, este é o mote dos primeiros momentos de Bioshock Infinite: DeWitt é perseguido e atacado por moradores que o têm como a verdadeira ameaça divina enviada para destruir o sonho criado pelo por Comstock. A partir daí, somos apresentados aos conflitos que movimentam Columbia e sua verve sulista – especialmente a luta de Comstock contra os revolucionários da Vox Populi (um grupo que luta contra a segregação e degradação que atinge às camadas menos favorecidas da “cidade dos céus”).

Bioshock Infinite tem um roteiro repleto de mudanças, de transformações e transições vertiginosas. Alías, a vertigem é parte da jogabilidade deste game e este é um dos seus grandes achados. Toda a ação de Bioshock Infinite acontece em uma cidade construída nos céus e conectada por linhas de metal semelhantes àquelas utilizadas em carrosséis. O jogador, logo nos primeiros instantes de Bioshock Infinite é presenteado com um dispositivo que, além de servir para nocautear ou decapitar seus oponentes, permite que ele deslize por tais linhas e imprima no jogador uma sensação de vertigem constante.

Além de seus ganchos, DeWitt conta com as armas que coleta ao longo de seu caminho ao resgate de Elisabeth, os estranhos vigores – garrafas que ele coleta pelo caminho e que concedem àquele que as bebe poderes e a possibilidade de criar armadilhas fatais para seus inimigos – e os equipamentos que podem ser combinados para garantir maior eficiência contra os ataques dos muitos inimigos que surgem por toda Columbia.

A criação deste mundo imaginário é algo a parte no jogo: é evidente o esforço dos desenvolvedores da 2K, especialmente quando analisamos este Bioshock Infinite, para a criação de uma experiência de sonho, combinando diferentes elementos de ficção científica em uma narrativa/atmosfera cativante em vários aspectos. Tomemos por exemplo a sequência final do jogo: a aventura termina em um verdadeiro emaranhado metafísico onde presente, passado e futuro dialogam em suas infinitas possibilidades – e todo estes emaranhado ficcional nos leva ao cerne da história.

Bioshock InfiniteA questão não estava na busca por alguém ou algo, mas nas revelações imbutidas em tal busca. Bioshock Infinite, como o próprio nome sugere, se transforma em algo além, interligando todas as aventuras anteriores da franquia em uma espiral complexa de eventos. Este me parece o principal mérito do jogo: estimular no jogador não apenas o apego à narrativa apresentada, mas como esta se relaciona com as demais histórias que compõem tal universo ficcional.

Bioshock Infinite transformou verdadeiramente sua franquia quando deciciu expandí-la ao infinito. Palmas para seus desenvolvedores por apresentar uma aventura de primeiríssima linha e, porque não, indispensável.

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Artigos

Um pouco de Nova Psicodelia…

Um gênero que simplesmente venho acompanhando nos últimos tempos é a tal New Psychedelia – ou Nova Psicodelia, se preferir. Bandas como Harlem, The Flaming LipsThe War on DrugsThe Black Angels ou Black Lips são alguns do exemplos que se enquadram neste gênero.

Pensando nisso, vai uma lista do gênero procês e que venho cultivando com aquilo que acho bacana na tal “Nova Psicodelia”. Aproveitem, mas preciso lembrar que acrescentei algumas bandas que julgo pertencerem ao lugar das citadas acima. Curtam…

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É tempo de Copa, mas…

A Copa no Brasil terminou muito antes de ter começado. Uma das minhas primeiras recordações da infância é da Copa de 1982: lembro das casas decoradas, ruas pintadas e um sentimento de que aquele esforço valia a pena – especialmente porque a Seleção estava jogando e que tudo aquilo representava um ideal, um sentimento compartilhado de realização coletiva. Me parece, no entanto, mesmo quando comparado com aquele sentimento em relação ao Mundial de 2010 na África do Sul, que a Copa é natimorta: fala-se em investimentos, legado, retorno, mas, o tal sentimento de realização coletiva, que seria o mais significativo, sequer mostrou-se.

Uma pesquisa divulgada no dia 22/04/2014 deu a dimensão de tal sentimento ausente: 83% dos brasileiros, aponta o levantamento da Associação Comercial de São Paulo, disseram que não realizariam gastos adicionais para a Copa do Mundo. Significa dizer que a maioria da população não comprará uma TV nova, sofá ou pretende contribuir para deixar sua rua ou condomínio preparados para os jogos da competição.

Uma outra pesquisa, desta vez do Datafolha, apontou que cerca de 55% dos brasileiros acredita que a competição trará mais prejuízos que benefícios para o país. Além disso, a mesma pesquisa mostra uma divisão entre os favoráveis e contrários à competição no país: 44% dos brasileiros são favoráveis à realização da Copa contra 41% contrários – e 10% da população sem dar a mínima para ela. São números expressivos e que à sua maneira atribuem o contorno do que ora percebemos nas ruas.

O brasileiro, no geral, graças à maneira como a organização da competição se deu em nosso país, expressa sua descrença em um país que é eterno projeto em um projeto mal conduzido. A Copa do Mundo no Brasil detinha todas as componentes para mostrar o que temos de melhor: nossa diversidade, alegria, carinho e prazer em acolher. Entretanto, graças a todos, as ruas permanecerão sem cores, sem bandeiras e sem o tal sentimento compartilhado de realização coletiva que tanto nos alimentara em momentos anteriores.

O que resta da Copa do Mundo de 2014 no Brasil é a expressão de um outro sentimento comum e igualmente compartilhado: de que falhamos coletivamente. Aceitamos o engodo e passamos a pensar o Mundial não como um povo, mas como a Fifa, vendo-o mais como um negócio e não como oportunidade para expressar aquilo que reconhecemos como nosso melhor: nossa unidade.

A Copa do Mundo no Brasil foi perdida e ela nem mesmo começou. Que venha uma outra fora daqui para que possamos exorcizar este sentimento que incomoda, mesmo ilhado.

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Hipertecnologias e educação

Podem afirmar em contrário, mas a maneira como as hipertecnologias, seus dispositivos e ambientes, são empregados quando associados à educação geralmente me levam ao sono. Na verdade, especialmente neste quesito, a distância que separa “mestres” e “pupilos” é gritante.

Provavelmente o grande salto para a educação e seu diálogo com o entorno hipertecnológico recente somente ocorrerá quando esta distância entre alunos e professores for superada e o instrumental colaborativo-tecnológico ora disponível se consolidar em uma verdade que transponha os usos e a imprevisibilidade destes – ora nas mãos das maiorias – se transformando em um outro instrumental: este a serviço da promoção, difusão e distribuição do conhecimento através e além das salas.

Esta, me parece, a fronteira a ser superada quando procuramos encarar os processos educacionais e o diálogo destes com as hipertecnologias: cada educador precisa reconhecer contemporaneamente que as diferentes telas são algo incontornáveis. Aceitá-las, adotá-las e expandí-las, envolvendo-as com mais e mais saber, se tornará regra.

Quando reconhecermos tal condição, as paredes das salas e aqueles dentro delas descobrirão o quão valioso é aquele instrumento hipertecnológico, colaborativo e libertário que trazem em suas mãos.

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